3 de dezembro de 2007

Vontade: único pré-requisito para se tornar produtor

Ter coragem é o mínimo necessário para enfrentar a empreitada de abrir uma produtora de shows independente. Os eventos não são financeiramente vantajosos, mas a sensação de fazê-los dar certo é o vício. O que move esse ramo é a vontade, é o amor. Entra nele quem gosta de música e quem tem a cabeça no lugar para dar a volta por cima no prejuízo.

“A gente faz por amor mesmo, por vontade de divulgar as bandas, ou fica inventando estratagemas pra sair no zero a zero no evento. A gente faz porque gosta, pelos novos contatos que surgem, porque a gente sabe que ainda tem muito a aprender também.” São palavras da jovem produtora Jacqueline Bittencourt. Ela tem 21 anos e cursa Artes Plásticas na Unb.
Sua primeira produtora foi a “Esteria”, que funcionou como uma escola de produção de eventos. Hoje ela faz parte da Footsteps, que já é maior, mesmo sendo da cena independente.
A cidade teve uma agitação cultural muito forte anos anos 80, Jacque, como é conhecida, sentia falta disso. E esse foi um motivo a mais para ela ter vontade de fazer parte do ramo.
As produtoras que Jacque participou já trouxeram bandas de outros estados para Brasília. Ela diz que "lucrar mesmo com show local, especificamente, é quase impossível".
A cada dia que passa mais jovens têm vontade de produzir shows, o interesse pelo assunto é bastante crescente. A entrevista com a Jacque nos ajuda a ter uma noção de como funciona esse mundo.

A primeira produtora que você participou foi a Esteria. De onde veio a vontade de abrir uma produtora de bandas e eventos?
Eu e minha irmã mais nova, Mariana, sempre acompanhamos a trajetória do nosso pai o ajudando nos vários trabalhos que ele já teve. Entre esses trabalhos os que a gente mais curtia eram a loja de música, a escola de música e suas épocas de DJ e produtor. Eu acho que a vontade, procurando uma origem remota, veio daí.
Um dia a Mariana começou a ouvir e comentar sobre as bandas independentes de hardcore da cidade, que eu já não ouvia tocar desde 2000, na época dos festivais da Prótons no Sesc. A iniciativa veio totalmente dela. Começou a me mostrar as bandas, conhecer e me apresentar os músicos, e um dia sugeriu de fazermos um evento com bandas pra comemorar o aniversário de uma amiga dela. Foi a “Festa da Fifi”, em setembro de 2005, que reuniu bandas locais. Com essa festa a gente começou a aprender a contratar som, local, tentar patrocínio, divulgar, todas essas coisas.
Acho que a Esteria foi um marco legal. Só meninas, e na sua maioria menores de idade, que conseguiram fazer acontecer alguns bons eventos. Acho que as pessoas pensaram depois disso: “se elas conseguem, a gente consegue também”.
Quais foram os maiores obstáculos na hora de abrir uma produtora com pessoas tão jovens e sem muito capital?
Ser levado a sério pelas pessoas que contratamos era um obstáculo. O primeiro evento, a Festa da Fifi, quase não aconteceu por um descrédito dos donos do salão do evento, que acharam que não ia rolar. No segundo, a Esteria Fest, o cara do som chegou horas atrasado.
A Esteria já não existe mais. Por que não deu certo? A falta de experiência foi o que mais pesou?
A Esteria funcionou como um workshop, uma escola mesmo para produção de eventos. Não dá pra tirar o mérito dela, ela nos deu a experiência necessária pra continuar. A gente só se separou por diferença de interesses mesmo.
Atualmente você participa da Footsteps, que apesar de ser da cena underground já era uma produtora maior que a Esteria. Como foi a sensação de receber o convite para participar dela?
Foi muito legal. Nós três pensamos bem diferente, mas entramos em acordo com bastante tranqüilidade. Acho que muitos bons frutos ainda virão da Footsteps.
Hoje em dia quais são as maiores dificuldades dentro desse universo?
O mais complicado em Brasília, em matéria de produção é espaço. São poucas casas, algumas outras com acordos de bilheteria que não valem à pena. Espaços públicos são mais difíceis e burocráticos de conseguir, e ainda não alcançamos o know-how necessário pra aprovar projetos junto ao governo. Fazer eventos em locais centrais, numa cidade planejada é complicado. Achar um lugar acessível ao público, que não incomode os vizinhos e seja financeiramente viável de produzir é o maior desafio.

Como é conciliar a vida corrida do mundo universitário com a produtora?
Fazer eventos em época de avaliações e provas nem pensar, né? Mas a impressão que me dá é que quem trabalha com isso tem uma inquietação inerente. Todo mundo é super multimídia: um estuda jornalismo, tem banda, faz cursos a tarde e produz; o outro trabalha, estuda musica e produz, já cheguei a trabalhar em dois lugares e estudar, acho que me ocupar assim é uma maneira de acompanhar a agilidade do surgimento de idéias novas na minha cuca.
Qual foi a sensação quando trouxe pela primeira vez uma banda de outro estado?
A primeira banda que ajudamos a trazer foi o Envydust, de São Paulo, num show do Ian da Reverso, no qual a Esteria entrou como apoio. É muito legal mesmo, trocar idéias com alguém do mesmo universo musical, mas de outra cidade. Nesse caso então, a sintonia foi muito bacana, os meninos da banda se deram super bem com a produção, e foi ainda mais divertido. Foi bacana também por gostarmos do som deles bastante.
O público ganha muito com esses shows, que não são muito caros e sempre são divertidos. Mas e os produtores, têm um retorno financeiro considerável?
Bem, shows só com bandas locais são muito difíceis de não dar prejuízo. O número de pessoas que prestigiam não é sempre suficiente pra se cobrir todos os gastos. Os shows com banda de fora dão certo retorno, mas ele não é grande, se for pensar no trabalho que dá, na gasolina, recepção da banda etc. Também o público vai ficando cada vez mais exigente a cada show, querem um bom show, com boa estrutura, ingresso e local acessível. Acho que essa é uma característica do público de Brasília, ser crítico. Isso é muito bom, mas com o passar do tempo pode voltar a enfraquecer o número de manifestações desse tipo na cidade, se as pessoas não prestigiarem o trabalho. A gente vai vendo isso acontecer e vai se desdobrando pra divulgar melhor, manter a qualidade, gastando menos dinheiro. É bem complicado.
As produtoras independentes vêm movimentando muito a cena musical de Brasília. Hoje muitos jovens estão criando coragem para esse tipo de empreendimento, e é até considerável o número de produtoras menores que já existem. A que você atribui esse sucesso que acabou virando a maior fonte de entretenimento da cena underground da cidade?
A vontade de sair do ócio mesmo, de ver acontecer. E eu acho isso muito lindo, essa força de vontade, é quase sei lá, um resgate ideológico daquele lance do “faça você mesmo”. Dá pra ver isso na galera que produz shows, no pessoal que monta bandas, que faz artesanalmente seus próprios CDs, no pessoal que produz roupas, acessórios, nas iniciativas das rádios livres na internet, zineiros e blogueiros, de fazer o próprio negócio e próprio marketing. Acho que a internet é muito responsável pela reunião de toda essa produção cultural, e eu espero que tenha muito mais por vir daí.

10 comentários:

Anônimo disse...

Gostei da entrevista, legal a iniciativa do blog.

Abraços,
Fernando
http://www.footstepsrecords.com

Anônimo disse...

Tá super de parabéns Larissa!
A Jacque tem uma história muito legal na cena que merece ser contada mesmo.
A iniciativa é bacana demais.

Thamires Gomes
Lança Chamas Produções

Unknown disse...

A Jacque é mesmo uma graça de moça.

Anônimo disse...

uma palavra só: ridícula.
aparentemente, o seu curso não está te fazendo crescer em nada. mente pequena, escrita pavorosa...

Anônimo disse...

Jacque, a entrevista ficou ótima! Parabéns. Curti mesmo, linda.

Hehehe e esse anônimo aí muito louco? Sem comentários..

Bel disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Bel disse...

engraçado, esse tal anônimo foi tão cheio de si na hora de criticar e ofender, mas na hora de se indentificar o peito não foi estufado o suficiente. poxa, podia ensinar,né? já que o curso do iesb não tá sendo o bastante. passa seu telefone ai ô, tbm vou querer.

Equipe Ziperona disse...

É justamente o que a Jacque falou: para que a cena independente da cidade seja movimentada e melhorada, é preciso que as produções e suas iniciativas sejam valorizadas, tanto pela população prestigiando os eventos quanto pela mídia local(que coloco dentro blogs, fotologs e outros mecanismos midiáticos que são acessíves a muita gente).
Um fato que precisa ser mudado na cidade é esse certo interiorismo nosso de sempre criticar as iniciativas dos outros e não dar crédito a elas geralmente por questões pessoais e não técnicas ou profissionais.
Brasília tem um potencial incomensurável tanto no aspecto da arte quanto na organização de eventos. Somos cede de grandes eventos nacionais independentes como o Porão e o FMI e temos artistas locais que poderiam, se nossas produção cultural fosse mais organizada e, com isso, fortificada, ser reconhecidas nacionalmente. Precisamos extrair mais desseas grandes produções que contam com muita gente que sabe muito desse universo para melhorar a cena local de eventos menores. É possível, nós sabemos.
Akira Martins
Ziperona Produções

Anônimo disse...
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Anônimo disse...
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